Google perdendo terreno? Apple avalia trocar buscador por IA e ações despencam

  • Elyson Gums

    Elyson Gums

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    Atualizado em 08/05/2025

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A Apple estuda substituir o Google como buscador padrão em seus dispositivos. A alternativa? Mecanismos baseados em IA, como Perplexity ou ChatGPT. A notícia causou uma queda de 8% nas ações da Alphabet, a empresa que controla o maior buscador do mundo.

Não sabemos se ou quando essa mudança vai ocorrer. Também não sabemos qual plataforma será a “principal”, se todas estarão disponíveis facilmente, ou se uma solução própria vem aí. Até aqui, é tudo especulação, com base na percepção dos executivos sobre o mercado de buscas na internet.

Segundo um vice-presidente executivo da Apple, as pessoas preferem as buscas por IA quando usam o Safari, navegador padrão do iOS e MacOS. Já o Google argumenta que a busca tradicional continua a crescer.

A questão é delicada pois, se a Apple trocar mesmo de buscador, impactará todo o mercado de SEO. O caso está sendo noticiado pela Bloomberg.

O resumo da história

A decisão da Apple é muito maior do que apenas “mudar o Google” nos seus dispositivos e sistemas. Essa troca tem várias implicações (que valem 20 bilhões de dólares!) e se relaciona a um processo histórico contra o Google.

Este é o contexto do caso:

  • O Google está sendo acusado por monopólio pelo Departamento de Justiça dos EUA desde o ano passado;
  • No processo, foi revelado que o Google paga 20 bilhões de dólares à Apple para que o Google seja o buscador padrão nos seus dispositivos;
  • Segundo os concorrentes, essa parceria é um dos fatores que impossibilita a competição no mercado de buscadores;
  • No entanto, o cenário pode estar mudando com a chegada da IA – pela primeira vez, as pessoas estão voluntariamente deixando o Google para pesquisar em outros locais;
  • A Apple está atenta a esse movimento, segundo seu vice-presidente executivo;
  • Sem a exclusividade com a Apple, o Google perderá volume de buscas, o que desvaloriza o produto;
  • Um dos principais argumentos de buscadores concorrentes, como o Duck Duck Go e o Bing, é que o contrato com a Apple inviabiliza o crescimento dessas plataformas.

Para a Apple, pesquisa alimentada por IA é o futuro

Segundo Eddy Cue, vice-presidente executivo de serviços na Apple, as pessoas vão trocar os buscadores padrão por plataformas de pesquisa de LLMs, como Perplexity, ChatGPT e Gemini.

O pensamento seria comprovado pela diminuição no volume de buscas tradicionais no navegador Safari. Esta é a primeira vez que as pessoas estão deixando de usar o Google.

Em seu testemunho para o Departamento de Justiça dos EUA, Cue afirmou que a Inteligência Artificial é um novo paradigma tecnológico, e que não enxerga um mundo em que as buscas feitas com IA parem de crescer.

Talvez as pessoas não precisem de um iPhone daqui a 10 anos, por mais que pareça loucura. A única forma de haver competição é quando há mudanças de paradigma. As mudanças de tecnologia criam essas oportunidades. A IA é uma nova mudança tecnológica e está criando novas oportunidades para quem está entrando agora.

Mudanças não devem ser imediatas

Apesar das declarações fortes, ao menos por enquanto, as buscas por IA não serão o “padrão” na Apple. Caso realmente faça uma mudança, as plataformas de IA aparecerão como opções, ao lado do Google.

O argumento de Eddy é de que, no momento, os índices das LLMs ainda não são tão bons, mas os recursos adicionais as tornam uma opção melhor aos olhos do público.

Diga-se de passagem, o rastreamento dos crawlers de IAs também é ruim. O vice-presidente da Apple não entrou nesse mérito, mas uma pesquisa da Vercel mostra que a maioria dos bots não consegue renderizar JavaScript e perde muito tempo em páginas que não existem.

Google diz que não é bem assim

Um dia depois da reportagem da Bloomberg ser publicada, o Google emitiu uma nota oficial falando que, na verdade, o buscador está crescendo, inclusive em dispositivos Apple.

Veja o comentário abaixo, com tradução e grifos nossos:

Continuamos a ver aumento geral no número de pesquisas, incluindo em dispositivos e plataformas da Apple. De forma geral, conforme melhoramos a Pesquisa Orgânica com novos recursos, as pessoas estão achando a pesquisa do Google mais útil para as suas necessidades – elas estão acessando para novas coisas e de novas formas, seja por navegadores, aplicativo do Google, comando de voz ou Google Lens.

Isso não significa que alguém está mentindo. Possivelmente a Apple usou uma metodologia para chegar às suas conclusões, e o Google usou outra. Também existe a possibilidade da Apple estar falando exclusivamente do Safari, e o Google de todo tipo de sessão (incluindo, por exemplo, quem baixou outro navegador no iPhone).

Apesar do comunicado, as ações da Alphabet ainda não voltaram a crescer. No momento em que este texto está sendo escrito (final da tarde de 8 de maio), houve alta de apenas 0,27%. 

Um momento delicado para o Google

Esta é a primeira vez na história em que a hegemonia do Google é ameaçada. Agora, a empresa enfrenta pressão por todos os lados:

  • O governo dos EUA estuda a possibilidade de fragmentar as operações da Alphabet, sob a acusação de que ela impede o funcionamento do livre mercado;
  • Ferramentas como Claude, Perplexity e principalmente ChatGPT crescem cada vez mais;
  • Donos de site estão insatisfeitos com atualizações frequentes, como o fato das AI Overviews estarem diminuindo tráfego orgânico e taxa de cliques;
  • E até o público geral questiona a qualidade do buscador.

O que isso significa para quem faz SEO?

O assunto pode parecer distante, mas ele tem tudo a ver com quem faz SEO – tanto profissionais da área quanto empresas que investem nessa estratégia.

Durante muito tempo, “fazer SEO” era sinônimo de “aparecer no Google”. Em breve, provavelmente não será mais assim.

Estaremos falando de construir marcas sólidas, reconhecidas em diferentes canais – buscador padrão do Google, plataformas de IA, pesquisas em assistente de voz, entre outras possibilidades. Além disso, táticas já conhecidas podem perder espaço, enquanto outras novas podem surgir.

Em teoria, as declarações de Eddy Cue são apenas uma discussão entre empresas trilionárias de tecnologia (e uma briga com o governo). Na prática, é um sinal para o mercado: é hora de se adaptar.

Independentemente do cenário, qualquer mudança concreta deve demorar a acontecer. O Google ainda tem o melhor crawler e um contrato bilionário com a Apple – e a mera possibilidade de perdê-lo “tira o sono” dos executivos.

E, no momento, nenhum buscador consegue bater a oferta do Google. Para fins de comparação, o Bing chegou a oferecer TODA a sua receita de anúncios à Apple – e ainda assim foi financieramente inviável pensar em uma substituição.

Para ter comparação, não existe concorrência.

  • Elyson Gums

    Elyson Gums

    Jornalista e mestre em Comunicação Social. Produzo conteúdo para projetos de SEO e inbound marketing desde 2014.

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