O Modo IA substitui os links azuis do Google por uma interface mais próxima ao ChatGPT. Este “novo Google” tem respostas interativas, geradas pelo Gemini 2.5, modelo de linguagem mais avançado da big tech, e pode cobrir pesquisas muito mais complexas.
Não são necessárias ações específicas para aparecer no Modo IA, mas é importante conhecer alguns conceitos básicos sobre ele, como suas capacidades de raciocínio e a técnica de query fan-out para fragmentar pesquisas em múltiplos tópicos.
Neste post, você verá os principais detalhes técnicos do Modo IA, com base em análises de patentes, feitas por profissionais como Mike King, e em pesquisas sobre o impacto da busca com IA nos EUA.
O que é o Modo IA?
O Modo IA é a experiência definitiva de Inteligência Artificial do Google.
Ele é praticamente igual a um chatbot de IA, como a Perplexity ou o ChatGPT. Você faz uma pergunta e o Gemini gera uma resposta em texto, com a qual você pode interagir fazendo perguntas adicionais.
A diferença é que o Google pesquisa mais na web e deixa os links em maior destaque na tela.
Nos bastidores da ferramenta, tem um detalhe bem importante: o Google fragmenta pesquisas em diversos subtópicos, que são pesquisados de forma simultânea para gerar respostas mais ricas.
Segundo o Google, trata-se da “sua ferramenta de IA mais poderosa, com raciocínio avançado e multimodalidade”. O portal The Verge descreveu como “é o Google googlando coisas pra você”.
O Modo IA foi anunciado em março de 2025 e lançado oficialmente no Google I/O, em maio do mesmo ano. Desde então, está em lenta implementação em países que falam inglês, como EUA, Canadá e Reino Unido. Em agosto de 2025, o Google anunciou o lançamento em 180 países, incluindo o Brasil, também em inglês.
O novo padrão do Google
Dentro da comunidade de SEO, existe a teoria de que o Modo IA substituirá completamente a Pesquisa Tradicional em breve. O motivo principal é que o mercado de pesquisas com IA não para de crescer, pois as pessoas gostam da experiência mais direta, personalizada e interativa de busca.
No entanto, hoje a adesão do Modo IA é muito baixa. Um estudo publicado pela agência iPullRank mostra que há poucas pessoas usando – e a maioria testa uma vez, depois vai embora.
Isso não significa que as pessoas não gostam do Modo IA. O mais provável é que simplesmente não ativem por causa das barreiras para usar – hoje ele está “escondido”, necessitando de múltiplos cliques para acessar.
Possivelmente o Google está cauteloso com um lançamento em larga escala por causa dos anúncios. Hoje, eles são uma fonte de receita importante da Pesquisa Orgânica, mas não têm uma integração tão natural com chatbots de IA. A expectativa é que o Modo IA receba anúncios ainda neste ano.
Esse contexto é importante, pois o Modo IA tem potencial de transformar o mercado. No entanto, ainda é uma “tecnologia do futuro”. É importante entender como funciona e acompanhar o seu crescimento, mas sem abandonar as suas estratégias atuais.
Qual o impacto do Modo IA para SEO?
O Modo IA introduz novos conceitos para a otimização de mecanismos de busca. Entre eles:
Raciocínio e geração de resposta com base em URLs e fragmentos de conteúdo semanticamente relacionados;
Ramificação de pesquisas;
Modos diferentes de recuperação de informação em páginas;
Personalização;
Ausência de uma “primeira posição” clara e bem definida;
Logo, SEO passa a depender ainda menos de palavras-chave e das plataformas “comuns” de mercado. Isto inclui o próprio Search Console, que hoje não mostra de forma clara qual é o tráfego gerado a partir do Modo IA (e nem das AI Overviews).
A otimização de páginas fica mais dinâmica no Modo IA. As bases de SEO continuam as mesmas (com produção de conteúdo útil, linkagem interna, otimização de rastreabilidade, etc.), mas alguns processos podem mudar bastante com o decorrer dos anos.
O impacto mais imediato é uma redução na taxa de cliques. Estudos do início de 2025 mostram que apenas 4% das pesquisas resultam em cliques para um portal. A razão é lógica: se o próprio Google entrega tudo o que as pessoas querem saber, então não há porque clicar.
As patentes do Modo IA
O Google tem diversas patentes que apresentam o funcionamento das suas LLMs. Elas não falam especificamente de Modo IA, mas possivelmente apresentam os detalhes das tecnologias que alimentam o Gemini 2.5.
Juntas, elas permitem entender alguns caminhos que o Google, enquanto empresa, está tomando em seus setores de desenvolvimento de IA.
Veja abaixo como as descobertas dessas patentes se aplicam no Modo IA e quais conceitos elas abordam.
Como o Modo IA funciona?
O Modo IA funciona, principalmente, com base em semântica. Ou seja, o Google interpreta as pesquisas, entende o seu significado. Ele faz o mesmo com cada página indexada, sem depender de palavras-chave.
Assim, ele entende que frases como “Google, me diz um lugar legal aí pra eu almoçar, que tenha comida coreana” quer dizer o mesmo que “recomendações de restaurantes coreanos”, por mais que todas as palavras sejam diferentes.
Esta é uma representação do processo, criada pela equipe da iPullRank:
Os passos podem ser resumidos assim:
A pergunta da pessoa é dividida em várias subconsultas. Em seguida, ele junta fragmentos de informação sobre cada uma. A partir daí, monta cadeias de raciocínio para interpretar a busca;
O Google busca cada subconsulta em seu índice e seleciona trechos de páginas que façam sentido dentro das cadeias de raciocínio montadas anteriormente, mesmo que elas não estejam otimizadas para a palavra-chave da busca;
Diferentes modelos especializados contribuem com parte da resposta, que é organizada como uma resposta única exibida para a pessoa.
Para que tudo isso funcione, estão presentes:
Embeddings e vetores: são representações matemáticas do significado das palavras;
Query fan-out: é a transformação de uma pesquisa em múltiplos termos semanticamente relacionados;
Raciocínio: permite conectar conceitos para gerar respostas lógicas;
Personalização: leitura de dados sobre quem está pesquisando, o que interfere na resposta gerada.
Veja abaixo um resumo dos principais tópicos, com base no que dizem as patentes.
Processamento de pesquisas
O Modo IA tem um conjunto de modelos especializados, que podem:
Resumir e comparar avaliações de produtos;
Traduzir páginas de diversos idiomas;
Extrair e formatar dados estruturados;
Comparar informações entre diferentes documentos.
Os modelos são acionados dependendo do que o Google acha necessário para responder a uma pesquisa. Por exemplo, gerar texto, apresentar gráficos, resumir um contexto complexo, acrescentar ideias de próximos passos depois da resposta, entre outros.
Vetorização e semântica
Todo o funcionamento do Modo IA está ancorado em semântica.
Cada pesquisa, subpesquisa, página consultada e até os trechos de conteúdo (incluindo imagens e vídeos) são transformados em vetores. Ou seja, eles viram uma sequência numérica que representa o seu significado.
Para descobrir como cada conceito se relaciona, o Google compara estes vetores e analisa a sua similaridade.
O Gemini pode, inclusive, comparar dois vetores para determinar os mais relevantes para responder a uma pesquisa. O processo pode ser realizado diversas vezes, montando um “ranking” de informações úteis, consultadas para gerar as respostas.
Portanto, no Modo IA, a sua página não é analisada de forma isolada. Ela é diretamente comparada com concorrentes. Para ser citado como fonte, seu site deve ser considerado o mais relevante.
Memória no Modo IA
As patentes indicam que o Modo IA tem capacidade de memória, assim como o ChatGPT. Ele é capaz de lembrar do histórico de pesquisas e usá-lo em futuras respostas, para definir quais tipos e formatos de conteúdo exibir.
Em termos mais técnicos, esse histórico é armazenado como um conjunto de embeddings, representando conversas passadas, tópicos de interesse e padrões de uso.
Embeddings de usuário
O Google pode criar uma representação matemática das preferências de cada pessoa. Para isso, cria um embedding composto por padrões de uso, como padrões de clique, interesses de conteúdo, dispositivos usados e dados compartilhados entre aplicativos do ecossistema Google.
Esse sistema é usado em situações específicas, para interpretar perguntas, priorizar subpesquisas na query fan-out, selecionar trechos com base na afinidade das pessoas, entre outros.
Recentemente, o Google tem investido na personalização de diversas plataformas, como a pesquisa tradicional. Além disso, está trabalhando na integração da IA em todo o seu ecossistema de produtos (Calendar, Gmail, entre outros).
Logo, faz sentido usar dados pessoais na pesquisa orgânica, mesmo que eles sejam apenas presumidos. E, pela mesma razão, o navegador Chrome é tão importante para o desenvolvimento de produtos Google.
Não há tantos detalhes, menos ainda informações públicas, sobre como os dados são coletados (ou inferidos) e usados. Mas, tem implicações profundas em SEO, pois esses embeddings usados em larga escala significam muitos sites diferentes na “primeira posição”, dependendo de quem pesquisa.
A query fan-out no Modo IA
A query fan-out, ou ramificação de pesquisas, transforma cada prompt em novas buscas sobre os subtópicos daquele assunto. Desta forma, o Google consegue entender as nuances do tema e gerar respostas mais completas.
Por exemplo, uma pesquisa sobre “SEO” pode ser fragmentada em “o que é SEO”, “técnicas de SEO”, “SEO para iniciantes”, “como funciona SEO”, entre outras.
Com base nisso, o sistema consegue adaptar consultas para diferentes objetivos, como responder perguntas, encontrar evidências a favor ou contra uma afirmação e até destacar entidades específicas.
A LLM reproduz variações naturais de como alguém poderia formular a pesquisa, quais tópicos interessam àquela resposta e consulta um grupo extenso de fontes, que abrange todas essas variações. Como resultado, mesmo as páginas que não estão bem ranqueadas para “SEO” poderiam ser usadas na resposta, desde que sejam relevantes dentro de algum subtema pesquisado na query fan-out.
O número de subpesquisas realizadas depende da complexidade do prompt. No Google I/O, foi dito que centenas de buscas podem ser executadas de forma praticamente simultânea.
🍻 Aqui no site da SEO Happy Hour você encontra um guia completo sobre query fan-out, incluindo exemplos e impactos para quem faz SEO.
O raciocínio do Modo IA
Os modelos de linguagem do Google têm a capacidade de pensar em etapas. Eles montam um “rastro de raciocínio”, com as sequências lógicas usadas para formular uma resposta.
Inclusive, se você usa o Gemini, pode acompanhar as etapas realizadas até gerar a sua resposta, como na imagem:
Patentes do Google detalham treinamentos para que o modelo aprenda a decompor problemas complexos em etapas menores e entenda a lógica que conecta pergunta e solução.
Esse raciocínio faz parte de diversas etapas da geração de resposta, desde a interpretação de intenção de busca até a escolha de quais fontes consultar.
Como otimizar sites para o Modo IA?
Por enquanto, não há estratégias definitivas de otimização. Nos EUA, as empresas ainda estão na fase de realizar testes e desenvolver ferramentas e metodologias.
Até aqui, o caminho tem sido aumentar a visibilidade da marca, de forma ampla. Em vez de trabalhar para ranquear em determinada palavra-chave, os esforços são de construir autoridade tópica em múltiplas páginas e até fora do site, para aumentar a chance de ser rastreado durante a query fan-out.
Algumas ações que podem influenciar a visibilidade no Modo IA são:
Produzir conteúdo em diferentes canais fora do seu site, como YouTube, TikTok, Linkedin, Instagram, comunidades e fóruns (como o Reddit). Todos estes sites são indexados e citados pelo Modo IA, por oferecerem opiniões pessoais e insights únicos que as pessoas buscam;
Trabalhar com tópicos e temas amplos, em vez de palavras-chave. As palavras-chave podem dar suporte à sua estratégia, mas não devem ser o foco principal se você quiser visibilidade em IAs. Elas fazem parte de um modelo de busca léxica, que não existe nas LLMs;
Tenha atenção às dicas clássicas de redação para SEO. Muitas delas não se aplicam mais, como as relacionadas à densidade de palavras-chave, número mínimo de palavras por post, entre outras. Elas já não eram mais relevantes para os mecanismos de busca tradicional e são completamente ignoradas nas IAs;
Capriche na qualidade de conteúdo, priorizando estruturas lógicas, com redação bem feita, separação adequada com heading tags. Isto facilita a leitura, o que pode beneficiar a sua página nas etapas de raciocínio do Modo IA, em que ele está descobrindo quais páginas e trechos de texto citar;
Trabalhe a cobertura semântica dos seus conteúdos, cobrindo temas que estão relacionados de forma ampla e conectando os pontos entre eles. Faça isso por meio da criação de conteúdos densos e detalhados e com boas linkagens internas entre os links do seu site;
Invista em conteúdo multimodal. Segundo o Google, as pesquisas que combinam múltiplos formatos de conteúdo estão em alta. Produza imagens e vídeos originais sempre que possível, e otimize-os seguindo as boas práticas de SEO;
Siga as boas práticas de SEO. Elas não mudam, apesar do novo formato do Google. Estamos falando de otimizar rastreamento, usar heading tags adequadas, otimizar títulos e descrições, implementar dados estruturados, fazer auditorias, entre outras atividades que devem fazer parte da sua rotina para os buscadores tradicionais;
Atente-se para diferentes métricas de sucesso. O padrão de cliques nas plataformas de IA é bem diferente do tradicional, então medir apenas tráfego orgânico tornou-se insuficiente para avaliar o sucesso de uma estratégia de SEO.
De um ponto de vista técnico, não são necessárias ações extras ou estratégias de “GEO”. Você pode investir nelas se quiser fazer testes, mas o Google já explicou que não é necessário fazer nada de diferente para aparecer no Modo IA.
Como se preparar para o Modo IA e o futuro do SEO
Considerando o crescimento do ChatGPT e a expansão do Modo IA, vale a pena repensar a abordagem e o papel de SEO dentro das empresas.
O aspecto operacional segue o mesmo em muitas áreas, mas a “filosofia” por trás das otimizações mudou. O Google tradicional é apenas um dos canais e o tráfego orgânico torna-se uma métrica cada vez mais secundária.
Se preparar para este futuro envolve:
Considerar SEO um canal de “visibilidade”, capaz de tornar a sua marca presente até para as buscas mais específicas;
Construir relevância, autoridade e uma marca forte. No Modo IA e nas demais LLMs, isso influencia as possibilidades de citação;
Adequar os seus modelos de atribuição de leads para considerar o impacto de SEO em toda a jornada, além do primeiro e último clique;
Entender o Modo IA e as LLMs como apenas parte da jornada, não o destino final. Por décadas, nos acostumamos com um SEO de um canal só, apenas o Google tradicional. Hoje, este não é mais o caso.
Se você precisa de apoio para adaptar a sua empresa a este cenário, entre em contato com a SEO Happy Hour! Estamos apoiando empresas de diversos segmentos nesse período importante de transição do mercado.
Elyson Gums é redator na SEO Happy Hour. Trabalha com redação e produção de conteúdo para projetos de SEO e inbound marketing desde 2014, em segmentos B2C e B2B. É bacharel em Jornalismo (Univali/SC) e mestre em Comunicação Social (UFPR).
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