CEO do Google compartilha visão sobre o futuro da IA (e o futuro do SEO)

Para Sundar Pichai, CEO da Alphabet, a Inteligência Artificial tem potencial de ser maior do que a internet. Ele se refere a uma transformação tecnológica muito mais impactante, capaz de potencializar o surgimento de produtos que ainda nem imaginamos.

Logo, podemos esperar que o Google se mova cada vez mais nessa direção. O Google implementa IA em todas as frentes possíveis e acredita que isso não prejudica quem depende de SEO para gerar tráfego.

Sundar Pichai apresentou seu ponto de vista em uma entrevista ao portal The Verge, logo após o Google I/O. Recomendamos acompanhar na íntegra, porque fiocu muitio legal. Mas, para quem está sem tempo de ver (ou não tem o inglês tão afiado), compartilhamos abaixo um resumo das falas que envolvem o mercado de SEO (com alguns pitacos da equipe da SHH).

Já podemos adiantar que é o mesmo discurso de sempre: “a Pesquisa Orgânica não voltará a ser como antes, as IAs do Google supostamente entregam tráfego mais qualificado”. E seguimos sem dados concretos para comprovar essa tese. 

O “paradigma” da IA

Segundo Pichai, IA é a mudança de plataforma mais emblemática dos últimos tempos. 

Mudança de plataforma (ou “platform shift” em inglês) é uma transformação na forma como aplicações são construídas. Quando ocorre um platform shift, a “tecnologia dominante” passa a ser outra.

Por exemplo, quando a internet foi criada e popularizada, ela tomou o espaço dos meios analógicos. Com o surgimento das tecnologias móveis, houve outra transformação na forma de pensar e criar produtos e serviços.

A IA é uma mudança muito mais expressiva do que as anteriores. Não se trata apenas de uma “nova tecnologia”, mas sim de uma nova forma de pensar, e uma “stack” tecnológica capaz de se autoaprimorar.

Processos são acelerados, as barreiras para criar algo estão cada vez menores, e produtos que antes eram impossíveis de existir já podem ser comercializados. 

O Google acredita nessa visão e investe nela porque crê que ela se pagará no longo prazo. Implementar IA em tantos produtos e serviços é caro, mas a expectativa de retorno é alta. 

Quando eu olho para isso, a IA é uma tecnologia tão horizontal em todo o nosso negócio. É por isso que ela impacta não apenas a busca do Google, mas também o YouTube, a Cloud e todo o Android. […] Eu nunca vi uma tecnologia capaz de impactar e nos ajudar a criar tantos negócios. A IA será extremamente útil como assistente. Acho que as pessoas estarão dispostas a pagar por isso também. Estamos introduzindo planos de assinatura, então acredito que há muito espaço para crescer.

O impacto da IA para quem produz e publica conteúdo

O entrevistador Nilay Patel fez uma provocação curiosa: disse que se fosse começar o The Verge hoje, criaria uma conta no TikTok, não um site. Pichai respondeu um “não sei se concordo” e eles passaram a discutir como a IA está mudando as formas de produzir conteúdo.

Ao mesmo tempo em que o número de páginas na internet aumenta muito rapidamente, parece haver menor incentivo para criar conteúdo original. Parece até um paradoxo, já que é justamente isso que os algoritmos do Google recompensam.

Nos EUA, uma declaração da News/Media Alliance viralizou. A organização, que representa mais de 2000 portais de notícia nos EUA e no Canadá, alega que o Modo IA do Google está simplesmente roubando conteúdo:

Um trecho diz o seguinte:

Os links eram o último ponto positivo da busca que dava tráfego e receita aos publishers. Agora, o Google pega o conteúdo à força e o usa sem oferecer nada em troca, nenhum retorno econômico. Isso é a definição de roubo.

Sundar Pichai obviamente discorda. Ele afirma que o Google cita claramente suas fontes e gera até mais cliques do que antes. E lembra que antes mesmo da IA muitas pesquisas já não geravam cliques, pois respostas simples eram exibidas por meio de recursos como os snippets destacados.

No ano passado, Sundar Pichai já havia dado declarações semelhantes. Ele fez uma diferenciação entre pesquisas “simples”, que podem ser solucionadas sem sair do Google, e pesquisas mais complexas, que requerem contexto adicional. 

Na sequência, o entrevistador fez uma pergunta que me arrancou umas boas risadas: “mas se é assim, por que as pessoas estão tão irritadas com o Google?”.

A defesa do Google

A entrevista dá a entender que Sundar Pichai enxerga “gerar mais tráfego” de duas formas diferentes:

  1. Enviar mais pessoas para outros sites;
  2. Citar um número maior de fontes nas respostas de IA.

No seu ponto de vista, o Google faz ambos.

Acho que, mais do que qualquer outra empresa, nós priorizamos enviar tráfego para outras páginas da internet. Ninguém faz isso como nós. Olho para outras empresas, empresas emergentes e elas abertamente falam sobre isso como algo que não farão. Somos os únicos que têm isso como prioridade.

[…] É uma referência de tráfego de alta qualidade, também. Observamos, com base no tempo gasto nas páginas, entre outras métricas para entender a qualidade, que está aumentando. Além disso, acho que a IA está crescendo, o que vai aumentar ao longo do tempo.

Falta de dados sobre tráfego e cliques

Nilay Patel até insistiu no assunto, mas no fim das contas, não há dados públicos que comprovem o que o CEO do Google diz. 

Pichai fez várias afirmações sobre a qualidade dos produtos do Google, incluindo os que funcionam com IA:

Mas não informou quais dados foram usados, quais métricas foram consideradas, muito menos os detalhes da metodologia para chegar a essas conclusões.

Uma nota rápida do redator deste post: eu literalmente nunca vi alguém concordando com esse ponto de vista. Nem entre as pessoas que eu conheço pessoalmente, nem em comentários em rede social, nem nos comentários de especialistas. 

Ao mesmo tempo, o discurso do Google é esperado. 

A empresa está em um momento delicado: por um lado, precisa enviar tráfego para os donos de site, pois se não há incentivo para criar, não há de onde extrair conteúdo para alimentar a IA.

Por outro lado, precisa adaptar sua interface ao sucesso de plataformas generativas como o ChatGPT. 

A solução é tentar equilibrar tudo:

Veja, nós estamos enviando tráfego para uma gama mais ampla de pessoas. As pessoas podem estar acessando mais conteúdos, olhando mais conteúdos, então algumas pessoas, individualmente, podem ver menos [tráfego]. No fim das contas, nós refletimos o que os usuários querem. Se fizermos a coisa errada, os usuários não usarão nosso produto e irão para outro lugar. Então, há todas essas dinâmicas em jogo, e eu acho que nós, genuinamente… Levamos muito tempo para projetar os resumos de IA e estamos constantemente iterando de uma maneira que priorizamos isso: as fontes e o envio de tráfego para a web.

O futuro da internet com os agentes de IA

Ao pensar na “internet do futuro”, Pichai e Patel imaginaram a web como um conjunto de bancos de dados que são acessados por agentes de IA. Ou seja, não há serviços e produtos da forma como os consumimos hoje.

O próprio Google já começou a fazer isso, ao integrar agentes de IA ao Google Shopping. Nos EUA, está em testes uma funcionalidade que permite fazer compras direto do buscador, sem a necessidade de acessar um site de e-commerce. O recurso funciona com base em um agente de IA que acessa o checkout e coloca os produtos no carrinho. 

Para as empresas que participam desse modelo de negócios, Sundar Pichai comparou a situação com cuidar de um restaurante:

  • Você pode ter um espaço físico e operar com entregas;
  • A gestão dos modelos de negócio será diferente;
  • Você pode implementar ambas, ou escolher um ou outro;
  • Os clientes do delivery não necessariamente serão clientes do restaurante e vice-versa.

O CEO do Google acredita que negócios B2C precisarão tomar uma decisão sobre participar ou não do “modelo de negócios de agentes de IA”. Para negócios B2B, as vantagens de conectar diferentes frentes serão muito mais evidentes.

A entrevista levanta várias reflexões interessantes: quem vai pagar a conta? Cada empresa manterá os seus próprios agentes de IA? Haverá modelos de assinatura? Como ficam as outras frentes de negócio, como aplicações e sites que sustentam as empresas hoje? Valerá a pena “largar” esse investimento em prol de uma internet mediada por agentes? 

O Google está sofrendo pressão por todos os lados

Antes de pensar na internet do futuro, o Google precisa resolver os pepinos do presente.

E são vários:

  • A comunidade de SEO irritada com a falta de transparência;
  • Portais de notícias reclamando do “roubo de conteúdo” por parte da IA;
  • Plataformas de busca generativa (em especial o ChatGPT) ganhando cada vez mais mercado;
  • Relação abalada com a Apple, com quem a Alphabet tem uma parceria bilionária;
  • A acusação de monopólio pelo Departamento de Justiça dos EUA, com o qual o Google negocia termos para adequar sua operação à legislação do país.

Sobre os quatro primeiros pontos, Sundar Pichai simplesmente afirma que “estamos entregando tráfego”. Sobre o último, preferiu não falar muito, até porque o processo ainda está em andamento.

Uma das possibilidades envolve vender o Chrome, mas não houve muitos detalhes sobre o futuro da empresa caso isso realmente aconteça.

Pesquisa Orgânica sempre neutra

Também não existe a possibilidade de a política dos EUA influenciar os resultados de pesquisa. Por mais que a situação do Google seja complexa, a empresa não está disposta a sacrificar sua credibilidade em troca de favores políticos do governo Trump.

A forma como fazemos o ranqueamento é sagrada para nós. Fazemos isso há mais de 25 anos. Há muitos sinais de ranqueamento que consideramos e tudo mais. E se houver um feedback amplo das pessoas de que algo não está funcionando, vamos analisar isso de forma sistemática e tentar fazer mudanças, mas não olhamos casos individuais para alterar os ranqueamentos.

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Quando escrevo notícias sobre o Google, eu sinceramente sinto que os textos ficam repetitivos porque a big tech repete sempre a mesma coisa. Do CEO aos porta-vozes da Pesquisa Orgânica, toda entrevista é igual.

Ainda assim, é sempre importante acompanhar as falas oficiais e desdobramentos das notícias no buscador, especialmente em momentos de transição, como o que estamos vivendo agora, da “pesquisa tradicional” para a “pesquisa com IA”.

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  • Elyson Gums

    Elyson Gums

    Elyson Gums é redator na SEO Happy Hour. Trabalha com redação e produção de conteúdo para projetos de SEO e inbound marketing desde 2014, em segmentos B2C e B2B. É bacharel em Jornalismo (Univali/SC) e mestre em Comunicação Social (UFPR).

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