A maioria das plataformas de busca generativa tem problemas de atribuição de tráfego. ChatGPT, Gemini, Grok – quando você é citado nelas, nem sempre recebe todas as informações nas suas ferramentas de Analytics.
O problema acontece por causa da tag noreferrer, que é aplicada nos links citados pela IA. É uma configuração das próprias plataformas, então não tem o que fazer.
Isso significa duas coisas:
Provavelmente estamos subestimando o volume de tráfego vindo de IA, já que há cliques que não “chegam” para os donos de site;
Fica mais difícil alocar investimento com base em dados e fazer análises mais profundas de resultados de SEO.
Entenda abaixo o que significa e veja quais plataformas enviam os dados corretamente, com base na pesquisa feita por ele.
O que é e como funciona a tag noreferrer?
A tag noreferrer é aplicada em links e indica que o navegador não deve enviar informações de referência para o site de destino. Ou seja, quando alguém clica no link, o dono do site não sabe de onde veio o tráfego.
Na verdade, não é uma tag, mas sim um valor aplicado à atribuição rel em links HTML. No código, fica assim:
Por padrão, quando você clica em qualquer link na internet, o navegador envia um referrer (referenciador) para o site de destino, que informa a origem daquele clique. Com o valor implementado, isso não acontece.
O noreferrer está no centro do debate sobre atribuição de cliques originados de IAs. Quando a tag é aplicada, os cliques aparecem como “tráfego direto” no Google Analytics. Em alguns casos, o clique sequer é contabilizado.
Este é um exemplo de bug no Modo IA do Google, onde os cliques nem aparecem no Search Console:
Quais plataformas de IA têm a atribuição correta?
A maioria das ferramentas de IA adiciona o valor noreferrer aos seus links, o que prejudica a atribuição. Alguns serviços implementam em todos os links, outros apenas parcialmente.
Veja a relação:
Plataforma
Tem atribuição correta?
ChatGPT
Em partes
Gemini
Em partes
Copilot (web)
Sim
Copilot (Windows)
Não
Perplexity (Web)
Sim
Perplexity (Desktop)
Não
Claude
Sim
Grok
Não
DeepSeek
Em partes
Meta AI
Sim
Mistral
Sim
“Em partes” significa que o referenciador é enviado em apenas alguns casos. Por exemplo, no ChatGPT, apenas links em certas posições são atribuídos corretamente.
Patrick testou todas as plataformas, uma a uma. Para isso, usou o Chrome DevTools (aquela tela que aparece quando você aperta CTRL+SHIFT+C no Chrome) e buscou manualmente o referrer de cada link.
Atribuição no ChatGPT
O ChatGPT é muito inconsistente na atribuição de links. No modo “padrão” da LLM:
Em conta paga, a citação no meio da resposta tem noreferrer;
Em conta gratuita, a citação no meio da resposta não tem noreferrer;
Listas de links têm noreferrer;
Links para fontes (aquele menu do lado direito da tela) não tem noreferrer e inclui o parâmetro de URL ?utm_source=chatgpt.com para identificar a fonte de tráfego;
No modo Pesquisar na Web, a maior parte dos links não tem noreferrer;
No modo de Investigação, os links que aparecem ao longo do texto não tem noreferrer, mas as fontes que aparecem ao final tem noreferrer.
Assim, você pode identificar a origem de parte do tráfego que chega do ChatGPT.
Um detalhe curioso é que links HTTP não recebem atribuição correta. Se você ainda usa esse protocolo no seu site, considere atualizar para HTTPS, pois também é um dos itens das políticas de experiência de página do Google.
Atribuição no Google Gemini
No Gemini, a maior parte dos links tem atribuição correta.
As exceções são os links do modo de “Deep Research”, disponível nos EUA. É uma funcionalidade que pesquisa diversas fontes de forma quase simultânea, para gerar respostas mais aprofundadas.
Os links pesquisados nessa funcionalidade não passam referenciador para o site de destino.
Atribuição no Copilot da Microsoft
Um caso curioso: o Copilot web passa referenciador, mas a aplicação para Windows não.
Aqui, parece ter se tratado de um bug ou algo do tipo. Patrick Stox mencionou que o tráfego vindo para a Ahrefs a partir do Copilot sumiu de uma hora para outra. Depois, voltou a crescer, como se nada tivesse acontecido.
Possivelmente a Microsoft removeu a tag e os links passaram a ser atribuídos corretamente.
No Windows, os referenciadores continuam não sendo passados para o site de destino.
Atribuição na Perplexity
É uma situação parecida com a Microsoft:
Todos os links da versão web enviam referenciadores;
Nenhum link do aplicativo para desktop envia referenciadores.
Isso resulta em inconsistências na atribuição de dados, da mesma forma que ocorre com ChatGPT e Copilot.
Grok
Todos os links do Grok têm noreferrer. Vale tanto para a aplicação separada, quanto para a versão que está dentro do X, antigo Twitter.
Logo, todos os cliques vindos da IA aparecerão como “tráfego direto” nas suas ferramentas de analytics.
DeepSeek
Mais um caso em que apenas parte dos cliques pode ser rastreada.
Links na LLM padrão e no modo de Pesquisa Profunda não passam referenciador.
No modo de Pesquisa Web, as citações individuais podem ser rastreadas, mas a lista de fontes ao final da resposta, não.
Claude, Meta IA e Mistral AI
Todos os links de Claude, Meta IA e Mistral AI enviam referenciadores para o site de destino. Ou seja, todos os links podem ser corretamente classificados.
No caso da Meta, nenhuma funcionalidade de IA “embutida” nas redes sociais foi testada.
Qual é o impacto dos problemas de atribuição de IA?
Para donos de sites, o principal desafio é entender em detalhes qual é a relevância da IA para o negócio. Sem dados corretos de atribuição, fica impossível saber:
Em qual IA você está se destacando;
Se começou a aparecer para mais palavras-chave em alguma IA específica;
Se, quando e onde é possível considerar a IA dentro do modelo de atribuição da sua empresa.
Isso te obriga a tomar decisões no escuro e dificulta a alocação de verba.
Por exemplo, suponha que você esteja realizando duas ações simultâneas, de branding e de melhoria de visibilidade na IA.
Quando você abrir o Google Analytics, verá aumento de tráfego de fonte direta. Isso pode te levar ao seguinte raciocínio:
As ações de branding deram certo;
As ações de SEO deram errado, pois o tráfego de Pesquisa Orgânica caiu e o de IA também não aumentou;
Logo, melhor investir mais em branding, menos em visibilidade para IA.
E, em teoria, você não estaria errado: realmente os gráficos não mostram os cliques vindo da IA. Na prática, eles estão “diluídos” em outros canais. Isso exige uma análise mais atenta (e demorada) para entender os reais motores de crescimento da marca.
Por que as plataformas de IA fazem isso?
A maioria das plataformas não se manifesta sobre o valor noreferrer em suas citações.
Há pessoas no fórum para desenvolvedores da OpenAI levantando a discussão, mas não há resposta. Para as outras plataformas, a discussão simplesmente não existe. As desenvolvedoras, por sua vez, não comentam o assunto.
A exceção foi o Google, que mencionou o caso depois de uma pequena polêmica ter se criado. Especialistas em SEO dos EUA apontaram sobre a falha de atribuição e um porta-voz da big tech disse que foi um bug e que estava sendo corrigido.
Mas o porquê da tag ser incluída, ninguém disse. Por enquanto, só existem teorias.
Então pegue o seu chapéu de alumínio e senta que lá vem a história.
A falta de transparência das plataformas de IA
Para alguns nomes influentes do mercado de SEO, as empresas de tecnologia não querem que você saiba o quanto a IA está roubando de tráfego. Seria uma tentativa de esconder o tamanho da transformação causada pela IA generativa.
Nas últimas décadas, a internet funcionou com base em um “trato” entre mecanismos de busca e donos de sites:
Donos de sites deixam buscadores rastrearem o seu conteúdo;
Em troca, os buscadores enviam tráfego para os donos de site.
Todo mundo feliz: os buscadores têm conteúdo de qualidade para exibir, donos de site recebem visitantes, e todas as partes monetizam.
A IA generativa quebra essa lógica. Agora não é mais necessário acessar os sites. Os buscadores rastreiam o conteúdo e enviam menos tráfego em troca.
Há quem diga que o “grande plano” é esse: te deixar no escuro sobre as métricas de IA.
Nada disso é confirmado, nem há dados que sustentem essa tese. Mas é comum ver especialistas fazendo comentários do tipo, principalmente nos EUA, onde os recursos de IA do Google estão mais avançados em relação ao Brasil.
Noreferrer também atrapalha as IAs
Um contraponto forte para essa teoria da teoria: enviar o referenciador para os sites de destino também seria vantajoso para as empresas de tecnologia.
Por exemplo, imagine que em geral o ChatGPT gera o dobro de tráfego do que o Copilot ou o Grok.
Isso dá muito poder de negociação para a OpenAI porque comprova a sua vantagem para anunciantes. É a mesma lógica dos buscadores tradicionais – o Google recebe (e envia) muito mais tráfego do que o Bing. Logo, torna-se valioso para o mercado de SEO e de mídia paga.
Mas, com a tag noreferrer implementada, fica difícil comprovar qualquer coisa. Patrick Stox compartilha essa opinião e crê que essa configuração “prejudica o futuro” das próprias ferramentas de IA generativa.
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É uma situação meio chata (pra dizer o mínimo), mas infelizmente não há o que fazer “do lado de cá”, apenas seguir monitorando os dados que forem possíveis, enquanto empresas como IA, Microsoft e Google não se manifestam.
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Elyson Gums é redator na SEO Happy Hour. Trabalha com redação e produção de conteúdo para projetos de SEO e inbound marketing desde 2014, em segmentos B2C e B2B. É bacharel em Jornalismo (Univali/SC) e mestre em Comunicação Social (UFPR).
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