SEO está gerando menos tráfego do que antes. É uma constatação triste, mas precisamos ser realistas: hoje, as Inteligências Artificiais são “ladras” de tráfego.
Elas rastreiam sites e resumem o conteúdo. Logo, em muitos casos não há incentivo para alguém clicar no site que foi usado como fonte. Fica ainda pior para sites que investem em conteúdo de topo de funil, fica ainda pior, pois este é justamente o tipo de conteúdo mais simples para a IA replicar.
Fora isso, há atualizações do Google que podem derrubar a audiência de portais. Dois casos recentes foram os core updates de conteúdo útil e as quedas de acesso vindos do Discover.
Esses problemas afetam todo tipo de site. Mesmo grandes marcas, como Hubspot, Stackoverflow, Nerdwallet e Business Insider, estão enfrentando redução de tráfego orgânico.
A boa notícia: perder cliques nem sempre significa perder receita.
Neste post você verá o que as grandes marcas estão fazendo para enfrentar as quedas de tráfego. Nem todas as dicas se aplicam a empresas pequenas e médias, mas há muitas estratégias que você também pode aplicar.
Spoiler: ninguém parou de investir em SEO. 🌚
HubSpot: queda de 80% de tráfego em blog
Essa aqui viralizou no LinkedIn e fez o próprio HubSpot se posicionar. Basicamente, a empresa perdeu 80% do tráfego orgânico do seu blog, o que resultou em uma mudança de estratégia de conteúdo.
O que aconteceu: a empresa confirmou que está perdendo acessos. Depois, esclareceu que a queda ocorreu principalmente em conteúdo de topo de funil, que era apenas informativo ou tinha pouca relação com o modelo de negócios da empresa.
Durante muitos anos, a estratégia de conteúdo da empresa era:
Educar o mercado, com conteúdos sobre marketing que conduziam os visitantes por seu funil de marketing;
Investir em conteúdo que gera muitas buscas mensais, aproveitando-se de sua autoridade de domínio. Um dos mais famosos era “como escrever o emoji ¯\_(ツ)_/¯ em 2 segundos”.
Por muito tempo, funcionou.
O que a empresa fez: para lidar com a queda de tráfego, o HubSpot reformulou diferentes áreas da sua estratégia de SEO e de marketing de conteúdo.
Este podcast (em inglês) detalha a abordagem.
As principais ações foram:
Content pruning, para remover os conteúdos irrelevantes do site;
Mudar o foco de “informar e educar” para “gerar relevância e autoridade;
Investir em outras fontes orgânicas de aquisição de clientes, como patrocínios em podcasts;
Criar uma estratégia “holística”, que conecta diferentes canais de aquisição;
Diversificar estratégias de marketing e de conteúdo, para depender menos dos buscadores;
Incluir métricas de conversão como KPIs principais, em vez de “métricas de vaidade”;
Priorizar a produção de conteúdos aprofundados e de alta qualidade.
O objetivo do HubSpot foi sair de “educar” para “influenciar” o mercado.
Qual foi o resultado: o discurso oficial da empresa é que o tráfego caiu, mas os indicadores de negócio continuaram a crescer.
Segundo a empresa, isto é resultado de transformações no mercado, que exigiram adaptação. O crescimento das IAs generativas acelerou esse processo.
É um número muito superior à média do mercado, que é cerca de 34%.
O que aconteceu: a “culpa” foi principalmente dos resumos de IA no Google, lançados em 2024. Quando eles aparecem, as pessoas leem as principais informações no buscador e não clicam nos sites para saber mais.
Antes das AI Overviews: CTR de 13% em desktop e 20% em dispositivos móveis;
Depois das AI Overviews: CTR de 5% em desktop e 7% em dispositivos móveis.
O gráfico abaixo exibe o tráfego de setembro de 2023 até junho de 2025. São mais de 20 milhões de acessos perdidos.
O que a empresa fez: o MailOnline ainda está se adaptando a essa nova realidade.
Por enquanto, as apostas de Carly Steven para lidar com o avanço das IAs nos buscadores são as seguintes:
Foco em branding, para gerar pesquisas com marca. Quando alguém digita o nome do portal, indica que ele quer acessar um site específico, o que tende a resultar em melhor CTR;
Conteúdo que não pode ser facilmente replicável pela IA, como artigos de opinião e conteúdo criado por colunistas;
Usar ferramentas de terceiros para dados sobre as AI Overviews, já que é difícil mensurar o impacto delas;
Coberturas em tempo real, pois a IA generativa ainda não tem velocidade para lidar com as “breaking news”, que são os fatos em alta, que estão acontecendo agora e mudam o tempo todo.
Vale destacar que conteúdo noticioso está entre o grupo com menor presença de AI Overviews, segundo pesquisa da Semrush. No segundo trimestre de 2025, elas aparecem para cerca de 3% das pesquisas do tipo. Em outras áreas, como Direito, já estão em cerca de 20% dos resultados.
Qual foi o resultado: ainda é cedo para mensurar a efetividade das ações do MailOnline. As quedas de tráfego foram divulgadas pela diretora em maio de 2025, então as readequações ainda estão em curso.
Além disso, pode ser necessário se adaptar novamente, por causa do Modo IA. Ele substitui a interface padrão do Google por uma tela semelhante ao ChatGPT, onde todos os resultados são gerados por Inteligência Artificial. Por enquanto, é um modo “adicional”, mas o Google pode transformá-lo no padrão do buscador.
Um detalhe é que a situação do MailOnline é bem mais complexa que o HubSpot.
Por se tratar de um portal de jornalismo, o próprio conteúdo é a mercadoria. Isso significa que o tráfego afeta diretamente a receita, e que é muito mais difícil explorar “outros canais de aquisição”, como acontece em um software no modelo SaaS.
O que aconteceu: ao apresentar o relatório de faturamento do terceiro trimestre de 2024, Tim Chen citou “pressões na pesquisa orgânica” que estavam impactando algumas verticais de negócios.
Entre elas:
Instabilidade em páginas de intenção comercial, em categorias como “cartões de crédito” e “empréstimo pessoal”;
Desempenho ruim em palavras-chave educativas, de topo de funil;
Presença de recursos de IA generativa em buscadores, como as AI Overviews.
As pressões causaram queda de 7% de visitantes únicos no site e 16% de queda na vertical de “cartões de crédito” em relação ao último ano.
O que a empresa fez: a NerdWallet investiu em experiência do visitante e branding, o que se traduz em visibilidade em mecanismos de IA.
Foco em conteúdo complexo, que não pode ser facilmente resumido por mecanismos de IA generativa;
Lançamento de novos canais de conteúdo, como a newsletter TravelNerd e o podcast Smart Travel;
Atualização de conteúdos que perderam posições no Google;
Fortalecimento de sinais de E-E-A-T, com a inclusão detalhada de autores, da expertise do portal, e detalhes sobre como os conteúdos são criados;
Fizeram redirects em conteúdos com baixa performance;
Adquiriram um portal de conteúdo do Reino Unido e alteraram o domínio para “nerdwallet.com/uk/”, o que aumentou significativamente o tráfego desta vertical;
Realizaram content pruning para eliminar páginas com baixa performance.
Tim Chen afirmou que o tráfego está “estável”, em relação ao aumento das AI Overviews, e que “fatores que levam ao sucesso no Google parecem ser semelhantes nos mecanismos de IA generativa”.
Mencionar o Stack Overflow virou quase clichê ao falar de quedas de tráfego causadas por IA, mas pouco se fala sobre as suas tentativas de voltar a crescer.
A empresa não para de perder visitantes desde o lançamento do ChatGPT, em 2022.
O que aconteceu: o Stack Overflow é um fórum de dúvidas sobre programação. Quando alguém tem uma dificuldade, digita o problema no Google e eles normalmente aparecem como a primeira resposta.
Pelo menos era assim – hoje as pessoas perguntam direto para a IA. Em vez de ser o destino final para quem precisa de ajuda, o Stack Overflow se tornou apenas um intermediário que as pessoas não estão dispostas a usar.
É o mesmo que acontece com conteúdos informativos de topo de funil: o clique só é necessário se o visitante quer informações detalhadas.
O que a empresa fez: o StackOverflow fez mudanças bastante radicais em sua operação para tentar conter o sangramento. As ações incluem mudanças de posicionamento e até um rebranding.
Veja no detalhe:
Lançamento de uma IA própria em 2023, o OverflowAI, que usa as próprias respostas do fórum como dados de treinamento;
Foco em conteúdo autêntico, com proibição de respostas escritas por IA para se diferenciar do que é gerado por ChatGPT, Gemini, entre outras plataformas do tipo;
Parceria com a OpenAI, para fornecer seu conteúdo para treinamento de modelos do ChatGPT;
Rebranding completo, com mudanças em marca, posicionamento, marketing de produto, UX, entre outras áreas;
Qual foi o resultado: boa parte das ações não surtiu efeito. O tráfego segue em baixa, sem sinais de recuperação, assim como a quantidade de perguntas feitas na plataforma.
O rebranding foi anunciado em maio de 2025. Ainda não há datas para entrega e implementação da nova marca, mas a expectativa é de que traga melhores resultados.
Business Insider: queda de 55% de tráfego desde 2022
O Business Insider está em queda já faz alguns anos. A chegada da IA generativa acelerou o processo e obrigou uma reestruturação no portal de notícias (leia-se: layoff de funcionários).
É o mesmo processo pelo qual outros portais de notícias estão passando, como o já mencionado Daily Mail, e os gigantes estadunidenses The New York Times, Washington Post, Wall Street Journal e HuffPost.
O que aconteceu: as quedas acontecem por causa das mudanças na forma de consumir conteúdo.
Assim como aconteceu com outros portais, hoje acessar os sites é um passo “opcional” para muitos tipos de busca. Isso impactou o faturamento de várias áreas do jornal.
Em carta aberta, a CEO do Business Insider, Barbara Peng, diz que:
A indústria de mídia está em uma encruzilhada. Modelos de negócio estão sob pressão, a distribuição é instável e a competição por atenção está mais feroz do que nunca.
Como consequência, houve a demissão de 21% dos funcionários para equilibrar as contas e preparar a empresa para um novo momento.
O que a empresa fez: o Business Insider está preparando uma transição com base em três pilares principais para lidar com o novo cenário das buscas na internet:
Produção de conteúdo autêntico, aprofundado e feito por especialistas. Em outras palavras, a cobertura será mais específica e menos generalista;
Lançamento de eventos e diversificação de portfólio de negócios;
Adoção massiva de IA, tanto para aumentar a produtividade de funcionários, quanto para lançar novos produtos.
A intenção é bem clara: primeiro, medir sucesso a partir do lucro gerado. E em segundo lugar, depender cada vez menos de tráfego.
Segundo a CEO, o portal monetiza bem os visitantes. Hoje, mesmo com o tráfego em queda, o site gera mais faturamento do que nos anos anteriores.
Hoje, a empresa considera um risco depender apenas de SEO para gerar receita. Segundo a CEO, cerca de 70% da estrutura da Business Insider depende de cliques, em alguma medida. A meta é reduzir o número drasticamente.
Qual foi o resultado: a reestruturação foi anunciada no fim de maio de 2025, então qualquer resultado deve demorar alguns meses a aparecer.
É importante lembrar que o objetivo da mudanças não é recuperar acessos, e sim tornar a empresa mais lucrativa. Provavelmente o tráfego não voltará ao patamar de 2022 e a Business Insider parece ter aceitado essa realidade.
Também é necessário esperar pelo Modo IA do Google. Possivelmente ele terá outros efeitos nos acessos e na receita de portais de notícia, o que pode causar novas mudanças editoriais e de mercado no Business Insider.
As estratégias das grandes marcas que você pode replicar
O principal aprendizado é nunca depender de um algoritmo. Você deve testar diferentes canais de aquisição, sem escorar o seu sucesso em sistemas que podem mudar do dia para a noite.
Essa lógica vale para SEO e para todos os outros canais onde você não “controla” a plataforma, como as redes sociais. Você deve trabalhar a sua presença nelas, mas também precisa fidelizar a sua audiência e monetizá-la de diferentes maneiras.
Veja as estratégias que os grandes usam e você também pode fazer:
Não dependa de conteúdo informativo, de topo de funil. Escreva conteúdos autênticos, aprofundados, específicos e que geram autoridade, conversão ou fidelização;
Faça auditorias de SEO e de conteúdo regularmente. Elimine aquilo que “está sobrando” e pode puxar o resultado do seu site para baixo;
Invista em branding. Construa a sua marca em diferentes canais. Quem é mais pesquisado, sofre menos com as quedas de CTR e aparece mais vezes nas AI Overviews;
Diversifique as suas fontes de tráfego. Não aposte tudo no Google ou nas Inteligências Artificiais. Explore outros canais de marketing, como redes sociais e e-mail marketing;
Reforce sinais de E-E-A-T. Indique claramente quem escreve no seu site, comprove sua expertise e detalhe como o conteúdo é produzido. Se você usa IA generativa, indique claramente nas páginas;
Atualize seu conteúdo regularmente. Monitore quedas e atualize as páginas sempre que for relevante, para recuperar posições e ser mais citado pelas IAs;
Teste diferentes formatos de conteúdo. Newsletters, podcasts, guias, tutoriais detalhados, avaliações de produtos – teste e descubra o que performa bem;
Avalie as métricas certas. “Recuperar tráfego” nem sempre é o objetivo. Há casos em que é melhor focar em aumentar lucro, eficiência operacional ou relevância de marca.
Aqui na SEO Happy Hour, já estamos seguindo praticamente todos os itens dessa lista:
Estamos adaptando nossa estratégia para produzir menos conteúdo topo de funil no blog;
Realizamos auditorias regulares no nosso site para identificar oportunidades de melhoria;
Investimos em conteúdo em diferentes canais além de SEO;
Todos os nossos posts têm informações claras sobre quem escreve e sobre quem revisa;
Os conteúdos são autênticos e escritos com base nos nossos mais de 10 anos de experiência;
“Tráfego orgânico” não é a métrica pela qual avaliamos o nosso sucesso.
SEO passa por um momento desafiador e está longe de morrer. Mas, para ter sucesso, é necessário se adaptar, o que muitas vezes exige deixar para trás práticas que funcionaram durante anos.
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Se você precisa se adaptar ao novo cenário das buscas, entre em contato com a SEO Happy Hour. Temos um time de especialistas que pode te ajudar nessa transição.
Elyson Gums é redator na SEO Happy Hour. Trabalha com redação e produção de conteúdo para projetos de SEO e inbound marketing desde 2014, em segmentos B2C e B2B. É bacharel em Jornalismo (Univali/SC) e mestre em Comunicação Social (UFPR).
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